Resenha: A Importância do ato de ler

O livro A importância do Ato de Ler de Paulo Freire (1982) divide-se em três trabalhos. O primeiro trabalho é a importância do ato de ler, o segundo trabalho fala sobre a importância das bibliotecas populares e o último expõe uma experiência de alfabetização de adultos desenvolvida pelo autor e sua equipe em São Tomé e Príncipe.

O livro discute a vivência pessoal de Freire (1982), explicitando a compreensão crítica da alfabetização, e do papel de uma biblioteca popular relatando e documentando suas experiências de alfabetização e de educação política, pensando e repensando sua prática e sua vivência pessoal. A frase mais marcante do livro é “A leitura do mundo precede a leitura da palavra”. Evidenciando, que para aprender a ler é necessário aprender a contextualizar, interpretando o significado das palavras, para que o sujeito interprete o mundo da escrita. A leitura da palavra significa decodificar a palavra na íntegra.

De acordo com Freire(1982) a educação é um ato político para a prática concreta de libertação das pessoas não alfabetizadas, para que tenham a autonomia para viver na sociedade, e por isso os educadores não podem ser manipuladores tão pouco autoritários.

Ao longo da obra, cita alguns exemplos de leitura de mundo que se deu em sua infância em Pernambuco, e fala os detalhes do local de sua moradia, lembra-se das árvores onde brincava e aprendia a ter medo dos perigos também. Cita cada detalhe de suas memórias antes de aprender a escrever, fala das flores de sua mãe, do quintal, do canto dos passarinhos, “do movimento das árvores quando avisava que a chuva estava chegando, às águas da chuva, serviam para brincar de Geografia: inventava lagos, ilhas, rios e riachos”. (Paulo Freire, 1982, p. 21).

Daquele contexto - o do meu mundo imediato - fazia parte, por outro lado, o universo da linguagem dos mais velhos expressando as suas crenças, os seus gostos, os seus receios, os seus valores. Tudo isso ligado a contextos mais amplos que do meu mundo imediato e de cuja existência eu não podia sequer suspeitar (FREIRE, 1982, p. 22).

A infância de Freire traz o momento inicial de um cidadão inserindo-se na leitura de mundo, ou seja, no letramento. Ele conta que pouco a pouco como foi tendo experiências fundamentais na sua infância que o fizeram perceber o mundo, os “textos”, as “palavras”, daquele contexto se encarnavam no canto dos pássaros -

O sanhaço e olha-pro-caminho que vem o bem-te-vi, o do sabiá (Paulo Freire, 1982, p. 21), assim foi inserido na prática de letramento e em eventos sociais promovidos pela sua família e a natureza. Freire (1982) traz todo um capítulo do livro para compreendermos que as pessoas não possuem mentes vazias, e podemos utilizar o seu meio social para ensinar aquilo que ela não sabe, e isso facilita a prática da alfabetização.

O autor trabalhou com alfabetização de adultos, e tinha muito respeito pelo conhecimento que o povo carregava com sigo. Pois Freire sabia que o Brasil foi inventado de cima para baixo. Por isso defendeu uma biblioteca Popular centralizada na história do povo para que eles se reconhecessem como sujeitos históricos .

Os cadernos populares utilizados por Freire, não eram cartilhas nem livros básicos com discursos manipuladores. Não são livros neutros e nem espontaneístas. Mas permitam aos educandos a participação crítica e democrática no ato do conhecimento.

Dessa forma, Paulo Freire apresentava uma a Pedagogia libertadora, através de raízes teóricas e metodológicas que respeitassem os estudantes-trabalhadores, em seu contexto social na tentativa de construir significados, para que descobrissem a opressão em que viviam, e tivesse conhecimento para lutarem por sua libertação mostrando a importância da leitura do mundo.

Acadêmica de Pedagogia: Meirielly Ribeiro

Referência:

FREIRE, Paulo. A Importância do ato de ler em três artigos que se completam. São Paulo: Cortez (1982).