Poesia infantil indígena

 

No Brasil contemporâneo, quando falamos de índios, estamos nos referindo aos povos nativos do país. São habitantes do Brasil há milhares de anos. Posteriormente suas terras foram invadidas pelos portugueses. A Secretaria Especial do Desenvolvimento Social (2015) define povos indígenas como: “são aqueles que, tendo continuidade histórico com grupos pré-colombianos, se consideram distintos da sociedade nacional. Indígenas são aqueles que se reconhecem como pertencentes a uma dessas comunidades...”.

Inicialmente, segundo Luciano (2006), haviam 5 milhões de indígenas no Brasil. Posteriormente, com a invasão portuguesa, esse número alcançou 700.000 habitantes em 2001. Desse modo, com a grande destruição dos povos originários do Brasil, podemos observar, criticamente, que também houveram processos de enfraquecimento da cultura e da identidade indígenas.

Assim sendo, conseguimos compreender a literatura indígena como uma forma de divulgação e enaltecimento de todas as formas culturais indígenas, tanto as manifestações religiosas, quanto os hábitos culturais, por exemplo.  Consoante o Glossário Ceale, ainda não existe uma ideia geral a respeito da definição de literatura indígena. Utilizam-se vários termos para designar esse movimento literário, como Literatura Nativa ou Literatura Indianista, que era um conceito bastante utilizado para caracterizar as produções literárias do Romantismo brasileiro do século XIX, como os Timbiras (1857), de Gonçalves Dias e O Guarani (1857), de José de Alencar.

Em relação ao ponto de vista histórico, podemos observar avanços e retrocessos em relação à Literatura Indígena. Martins (2016) afirma: “No Período colonial, as descrições iniciais figuravam o índio como bárbaro, primitivo, exótico ou puro, dependendo dos interesses que estivessem em voga: exploratórios. Religiosos ou políticos”. Dessa forma, entendemos que as interpretações em relação aos povos indígenas variavam bastante com relação aos autores que retratavam os povos.

Posteriormente, no século XIX, no Romantismo, o índio passou a ser considerado, na literatura, como um “bom selvagem”, sendo caracterizado pela bondade e honra dos cavaleiros europeus, pois objetivava-se a construção de uma identidade nacional brasileira. Em seguida, na época Moderna, a figura do indígena funcionou, na Literatura, como o símbolo da concretização de uma identidade nacional, valorizando a identidade cultural brasileira.

Apesar de ter sofrido diversas perseguições e ter sua cultura intensamente desgastada, os povos indígenas mantiveram a persistência e conseguiram sobreviver à tentativa de extingui-los, principalmente por parte de grupos econômicos que queriam a invasão das terras indígenas e a destruição de suas propriedades naturais.

Assim sendo, a Literatura Indígena contemporânea apresenta-se como forma de resistência e valorização identitária. Desse modo, os movimentos literários indígenas estão auxiliando a recuperar o orgulho de ser indígena.  Lideranças indígenas como Krenak (2018), trabalham com a ideia de que devem ser criadas formas para incentivar o cuidado e a preservação da cultura indígena e da comunidade local. Assim sendo, podemos acreditar que a literatura também faz parte dessas estratégias, ao promover uma maior identificação com aquilo que é próprio da cultura local.

Até agora, falamos a respeito da história e da importância da Literatura Indígena. Entretanto, surgem algumas dúvidas específicas. Existe alguma lei que regulamenta a questão do ensino indígena no Brasil? Como promover a Literatura Indígena nas escolas?

A lei 11. 645, de 2008, regularizou o estudo da história e cultura dos povos indígenas nas escolas de nível Fundamental e Médio, segundo a Revista Nova Escola (2022). A lei afirma que será obrigatório trabalhar aspectos da história e da cultura indígena nas escolas brasileiras. Desse modo, observamos um grande avanço, possibilitando que um grande número de estudantes tenha acesso à essas manifestações culturais tão importantes à nossa nação.

Sobre a questão da abordagem da educação indígena nas escolas brasileiras, acreditamos que devem ser criados programas bastante estruturados, que chamem a atenção dos alunos e que também possam romper com determinados estereótipos que, como foi trabalhado anteriormente, definiram grande parte do imaginário brasileiro a respeito dos povos indígenas.

Observamos que existem diversos preconceitos relacionados à cultura indígena. Em primeiro lugar, um grande número de brasileiros acredita que os índios são parados no tempo. Desse modo, eles não acompanham e não tem o direito de seguir a Modernidade. Por exemplo, uma pessoa acreditar que um indígena não pode usar celular é um preconceito relacionado à questão temporal citada.

Outra forma preconceituosa de definir os povos indígenas é afirmar que todos eles são iguais. Conforme o Censo de 2010, no Brasil existem 305 etnias indígenas. Cada etnia possui sua cultura própria e seus hábitos particulares. Sendo assim, tratá-los como uma única tribo é reduzir as suas culturas, causando constrangimento e ridicularizando os aspectos da diversidade indígena.

O terceiro elemento característicos do ensino de um grande número de escolas no Brasil é o pouco significado das comemorações referentes à temática indígena. Ou seja, são realizados raros momentos que comemoram a cultura indígena e essas datas são caracterizadas por elementos vazios, como cocares e saias de penas. Desse modo, acreditamos que as escolas devem abordar de maneira mais plural e profunda a temática dos dias de comemoração indígenas.

O componente final que caracteriza a educação a respeito da cultura indígena é a falsa ideia de que os índios são preguiçosos ou guerreiros.  Essa concepção é atrasada, pois leva aos extremos, encarando os indígenas como povos extremamente guerreiros ou bastante preguiçosos.

Para finalizar, baseados no site da Nova Escola (2021), gostaríamos de apresentar algumas obras infantis que retratam a temática indígena:

1)    Das crianças Ikpeng para o mundo: Marangmotxíngmo Mirang, de Rita Carelli (SESI Editora)         

O livro conta a história de quatro crianças da etnia Ikpeng, no Mato Grosso. A obra é bastante educativa, pois ensina para os jovens como são as habitações de uma aldeia, como os índios tomam banho e como é sua alimentação.


2)    A palavra do grande chefe: uma adaptação livre, poética e ilustrada do discurso do Chefe Seattle, de Daniel Munduruku (Global)

O livro apresenta a visão de Munduruku a respeito do discurso feito pelo líder indígena Noah Sealth para o presidente dos Estados Unidos, em 1854, a respeito dos direitos dos povos indígenas.


3)    Aldeias, palavras e mundos indígenas, de Valéria Macedo (Companhia das Letrinhas)

Nessa obra, a autora apresenta quais são as semelhanças, diferenças e curiosidades a respeito de diversos povos indígenas, como os Yanomani. Desse modo, os estudantes poderão aprender melhor sobre as culturas e os hábitos de diferentes grupos indígenas.

Autor: Gustavo Olímpio Rocha Leão

Graduando em Pedagogia pelo IFG Goiânia Oeste

 

Referências bibliográficas

Censo 2010: população indígena é de 896, 9mil, tem 305 etnias e fala 274 idiomas. IBGE, 10 de agosto de 2012. Disponível em: https://censo2010.ibge.gov.br/noticias-censo.html?busca=1&id=3&idnoticia=2194&t=censo-2010-populacao-indigena-896-9-mil-tem-305-etnias-fala-274&view=noticia. Data de acesso: 27 de abril de 2022.

COUTINHO, Dimítria. Para Além do Dia do Índio: como abordar história e cultura indígenas em sala de aula. Nova Escola, 11 de abril de 2022. Disponível em: https://novaescola.org.br/conteudo/21185/para-alem-do-dia-do-indio-como-abordar-historia-e-cultura-indigenas-em-sala-de-aula. Data de acesso: 26 de abril de 2022.

FADDUL, Juliana. Literatura indígena: 10 livros para usar em sala de aula com os alunos. Nova Escola, 21 de abril de 2021. Disponível em: https://novaescola.org.br/conteudo/20288/colunas-literarias-21-literatura-indigena-10-livros-para-usar-em-sala-de-aula-com-os-alunos. Data de acesso: 26 de abril de 2022.

KRENAK, Ailton. Retomar a história, atualizar a memória, continuar a luta. In: CORREIA, Heloisa Helena Siqueira; DANNER, Fernando; DANNER, Leno Francisco; DORRICO, Julie (Org.). Literatura Indígena Brasileira Contemporânea: criação, crítica e recepção. Porto Alegre: Editora Fi, 2018. Cap. 1.

LITERATURA INDÍGENA. IN: Glossário Ceale. Disponível em: https://www.ceale.fae.ufmg.br/glossarioceale/verbetes/literatura-indigena. Acesso em: 27 de abril de 2022.

LUCIANO, Gersem dos Santos. O Índio Brasileiro: o que você precisa saber sobre os povos indígenas no Brasil de hoje. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, 2006.

MARTINS, Andrea Castelaci. A temática indígena na literatura infantil e juvenil- um percurso. Literartes, n. 5, p. 120- 149, 2016.

NOVAIS, Carlos Augusto. Literatura Indígena. Glossário Ceale. Disponível em: https://www.ceale.fae.ufmg.br/glossarioceale/verbetes/literatura-indigena. Data de acesso: 26 de abril de 2022.

Povos Indígenas. Ministério da Cidadania: Secretaria Especial do Desenvolvimento Social, 31 de julho de 2015. Disponível em: http://mds.gov.br/assuntos/seguranca-alimentar/direito-a-alimentacao/povos-e-comunidades-tradicionais/povos-indigenas. Data de acesso: 26 de abril de 2022.

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